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Entrevista com Manoel Alves Lima, CEO da FAL Design

Uma das discussões mais frequentes atualmente pensando na retomada pós quarentena, com as mudanças de hábito que eventualmente irão se impor, é se o Shopping Center e os Centros Comerciais continuarão a ser um destino preferencial de consumo e lazer para todos. Será que a nossa interação quase que obrigatória e exclusiva com o varejo digital durante o atual período vai moldar o nosso comportamento futuro? De fato, interações digitais estarão cada vez mais presentes na vida do consumidor mas o varejo físico é insubstituível, e é no ponto de venda que o consumidor tem contato mais próximo e experiencial com uma marca.

1. Como vê o comportamento das pessoas nesse momento de retomada?

Nós somo seres sociais. Queremos sair, frequentar lugares públicos, e principalmente, ver e sermos vistos. Adoramos encontrar o outro, observar comportamentos, detectar movimentos e confirmar impressões. Mais que um centro de compras, o Shopping é o local ideal para essa exploração. É um ambiente protegido, seguro, controlado e frequentado pelo nosso grupo social de referencia. Integra compras, lazer, cultura e gastronomia, ou seja, tudo que a gente mais gosta. É aonde nos sentimos à vontade e acolhidos. Nesse momento, certamente existirá um cuidado muito grande por parte dos Shoppings e Centros Comerciais com a segurança desse consumidor e com a volta de seus varejistas.

2.Como o varejo atua fazendo esse papel de Interação e Educação para o consumidor?

O varejo tem compreendido e assumido a sua obrigação didática e vem se preocupando cada vez mais em exibir e ensinar ao público o que está na moda, quais são as últimas tendências em tecnologia e decoração, e como consumir e viver melhor. Além disso, muito mais do que falar sobre moda e tecnologia, as marcas líderes procuram também assumir e declarar o seu proposito e as suas posições políticas, responsabilidades sociais, e de sustentabilidade. Isso interessa muito e cria uma conexão forte e duradoura com o seu consumidor. No ponto de venda físico, a ação da equipe de vendas deverá ser, nesse momento, muito mais focada em receber, orientar, esclarecer e educar. Assim como a ambientação da loja, que ao somar arquitetura, design de interiores, visual merchandising, design gráfico e comunicação visual apoiará e completará decisivamente esse processo.

3.E o que dizer sobre Encantamento e Inspiração?

Além de aprender, queremos ficar deslumbrados, apaixonados, encantados pelo novo. Essa é a função principal do Retail Design em todas as suas disciplinas. Uma boa coordenação de peças num manequim tem um poder de atratividade e encantamento  insubstituível. Uma vitrine criativa é capaz de chamar atenção, atrair e valorizar marcas e produtos. A arquitetura da loja e o design dos equipamentos emoldura os produtos e se materializa no Ponto de Venda potencializando o posicionamento e os diferenciais competitivos da marca. A comunicação visual orienta, humaniza e colabora de forma decisiva na cenografia do espaço. Uma visita ao shopping equivale a uma leitura da revista sensacional que mais gostamos, só que em três dimensões.

4. Como o Visual Merchandising através da exploração dos cinco sentidos pode ser um diferencial?

Além da oportunidade única da visão em 3D, sabemos que compramos muito melhor quando podemos usar toda a potencialidade do nosso sistema nervoso através da visão, audição, olfato, paladar e tato. Explorar por completo o espaço e os produtos e serviços oferecidos no Shopping , numa experiência imersiva, exige a percepção conjunta e imediata daquilo que vemos, ouvimos e degustamos, cheiramos e principalmente tocamos. Só assim podemos configurar uma experiência completa e imersiva, capaz de nos esclarecer e satisfazer totalmente. O digital deveria refletir a mesma atratividade da jornada de compra da loja, mas é no ambiente físico que reproduzimos o calor e a emoção do encontro, um verdadeiro “hub” de experiências e de trocas. Os dois ambientes deveriam ser cada vez mais integrados e sinérgicos.

5. No ponto de venda físico, além da experienciar os produtos, o consumidor busca uma gratificação instantânea?

Certamente, não se pode minimizar o prazer que sentimos ao nos apossarmos imediatamente de algo que desejamos. Anos atrás fizemos o projeto da instalação da Megastore do Ponto Frio, na Marginal Pinheiros, em São Paulo e uma das justificativas para a existência da loja, apresentada pelo então sócio diretor, era  permitir que os clientes retirassem os produtos adquiridos. Confesso que só levei à serio pela sua historia de sucesso e frequência com que o executivo frequentava as lojas. Depois da inauguração, junto as docas de retirada, assistindo a um cliente desmontando o banco do seu carro para tentar levar para casa uma tela grande que escolheu, pude comprovar o fato. Até hoje ouvimos inúmeros relatos semelhantes.

6. Como vê o futuro das compras, principalmente nos Shoppings e Centros Comerciais?

Nós, brasileiros, somos apaixonados pelo shopping. Paulistanos justificam essa preferencia pela falta de praias, mas quando vamos a um shopping do Nordeste, num domingo de sol, também ficamos surpresos com a alta frequência de público. A pandemia, assim como as necessárias normas de segurança sanitárias que vamos adotar em um futuro próximo, vão passar. E, muito antes do que imaginamos, voltaremos ao prazer de conviver com pessoas que, assim como nós, têm nos shoppings o seu destino preferencial de compras e lazer. Contudo, os shoppings terão um desafio cada vez maior de se reinventarem através da configuração de seus espaços físicos, de cuidar da segurança dos seus clientes e pensar em serem, de fato, não só centro de compras mas locais de encontro , entretenimento e novidade.

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